New Balance FuelCell Supercomp Trainer v3

Quando falamos de sapatilhas com placa de carbono, costumamos pensar nessas "armas de competição" desenhadas para quebrar recordes. No entanto, nem todos conseguimos correr a 3:00 min/km. É aí que entram as New Balance FuelCell Supercomp Trainer v3: um modelo que se apresenta como "daily trainer" com tecnologia de placa, pensado para te oferecer amortecimento, um toque de reatividade e mais estabilidade do que as suas antecessoras.

Como muitos sabem, a linha Supercomp da New Balance evoluiu rapidamente. Após uma primeira edição (v1) que surpreendeu pela sua aposta "maximalista" e uma segunda (v2) onde reduziram um pouco o peso e ajustaram a geometria, agora chega-nos a v3 com mudanças visíveis. Tive a oportunidade de testá-las durante várias semanas, alternando corridas de rodagem média, dias de fartlek e algumas corridas longas aos domingos. E o meu veredicto é que as v3 são, provavelmente, a versão mais equilibrada da saga até agora.

Neste análise, gostaria de me concentrar nos seus segredos: o que as torna diferentes? Para que tipo de corredor são direcionadas? Que sensações proporcionam quando estás em plena passada? Preparem um café, pois há muitas coisas a contar.

(Este texto vai ser longo, sim, mas estas sapatilhas bem o merecem. E eu corri com elas conscientemente: já somam mais de 150 km nas minhas pernas.)

Antecedentes: um pouco de história da saga SC Trainer

Antes de entrar em detalhes, vamos rever brevemente a história desta saga:

• New Balance SC Trainer v1: Apareceu com um perfil muito alto (cerca de 40 mm no calcanhar), design maximalista e uma placa de carbono que surpreendia para umas sapatilhas de treino. O problema: eram algo instáveis e pesadas (quase 300 g).
• New Balance SC Trainer v2: A New Balance corrigiu vários pontos, reduzindo alguns gramas (cerca de 263 g) e ajustando a base, mas continuava alta e não tão estável como alguns esperavam. Mesmo assim, foi bastante popular pela sua combinação de reatividade + conforto.
• New Balance SC Trainer v3: Nasce com a promessa de unir as melhorias das duas anteriores, reduzir um pouco mais a altura e reforçar a estabilidade, mantendo a filosofia FuelCell e a placa Energy Arc.

Podemos dizer que as v3 procuram ser as sapatilhas de treino com "placa amigável" que não obrigam a ritmos suicidas, mas que dão um extra se quisermos acelerar. A New Balance define o seu objetivo: "Que as pessoas que não são Kipchoge possam desfrutar da 'placa' sem sacrificar conforto nem arriscar a estabilidade."

Primeiras sensações ao calçá-las

Primeiro dia, 12 km suaves

Ao calçá-las, notei o upper FANTOMFIT bem conseguido: um ajuste semelhante ao das sapatilhas de competição da marca (tipo SC Elite), mas com um acolchoado mais amigável na zona do tornozelo. A lingueta semi-reforçada evita movimentos estranhos, embora sua espessura seja mínima.

A entressola FuelCell sente-se macia ao primeiro passo. É uma sensação que, se já experimentaste as Rebel ou as Elite, te será familiar. Mas nas SC Trainer v3 notas um plus de "envoltura" na zona média, provavelmente fruto das paredes laterais um pouco mais altas.

Começo a trotar a 5:15 min/km. Não sinto nenhum impulso da placa nem um rocker agressivo. Mas antes uma transição suave. Ao entrar de meio-pé, noto um ponto de ressalto, mas sem aquela sensação de rigidez que às vezes o carbono proporciona. Aos 5 km animo-me e faço um quilómetro a 4:20. Aí sim sinto um extra de impulso, um "toma lá, um pouquinho de alegria" que a placa te dá quando aumentas a cadência.

Termino o rodagem com um sorriso. A passada foi agradável. Não me faltou estabilidade em curvas nem a placa me incomodou em ritmos tranquilos. Essa, creio, é a grande virtude das v3.

Estrutura das sapatilhas: pontos chave

Entressola FuelCell com mistura de PEBA e EVA

Aqui reside a essência do "colchão reativo" típico da NB. As v3 misturam PEBA (não em 100%) com EVA para conseguir um toque amigável. Não é o ressalto extremo das Elite v4 (com PEBA total), mas sente-se mais enérgico do que a entressola EVA tradicional. A sua dureza no teste do durómetro fica em torno de 8,8 HA (segundo os laboratórios), um valor muito macio em comparação com a média das sapatilhas de asfalto.

Além disso, a altura foi reduzida um pouco em relação às v1 e v2. Estamos em 36,8 mm no calcanhar e 29,5 mm no antepé, com drop de 7,3 mm medido em laboratório (a NB oficial diz 6 mm, mas já sabemos que há pequenos desajustes). Essa diminuição na altura total se traduz em maior estabilidade.

Placa de fibra de carbono Energy Arc

A placa corre ao longo de toda a sapatilha, com uma curvatura côncava e um espaço central visível (cuidado com a entrada de pedrinhas!). Isso proporciona rigidez torsional (5/5 no teste de rigidez) sem obrigar a uma agressividade extrema. Tens a sensação de que a placa se "ativa" se lhe pedires velocidade, mas não te força a mudar a pisada em rodagens suaves.

Sola exterior

A borracha é relativamente macia (68,4 HC), proporcionando boa tração mesmo em asfalto húmido. Há revestimento no antepé e calcanhar, deixando exposta a zona média com a placa à vista. Essa disposição é um padrão em muitas sapatilhas com placa, para reduzir peso. A durabilidade, segundo testes de abrasão, é decente (não excecional, mas não má para umas sapatilhas de treino que priorizam leveza).

Upper FANTOMFIT

O material FANTOMFIT é respirável, embora não excessivamente. Dá-nos um 4/5 em respirabilidade e 1/5 em durabilidade da biqueira (é algo frágil em testes de atrito). No entanto, a zona do calcanhar recebe 4/5 em dureza, protegendo bem. O ajuste é de largura média, com 73,5 mm na zona do dedo grande e 95,9 mm na parte mais larga, o que as torna aptas para a maioria dos pés que não sejam super largos.

Em andamento: dinâmica e ritmos

Após vários dias de uso, testei diferentes cenários:

Rodagens de 8-12 km a 5:00-5:30: Aqui, as SC Trainer v3 comportam-se como umas daily trainer confortáveis, não se sentem forçadas nem rígidas. O amortecimento absorve bem o impacto e não me cansa as pernas.

Sessões de fartlek (5 x 3 min rápido c/2 min trote): a placa Energy Arc proporciona um toque agradável ao aumentar o ritmo (4:10-4:00). Não sentes aquele "wham" radical de uma racer pura, mas facilita a transição. O trote de recuperação não é penalizado.

Corrida longa (15-20 km) a 4:50: notei que, embora o peso total (263 g) não seja o mais baixo, as sapatilhas não me "atrapalham". A espuma macia protege da fadiga e, graças à base estável, não cansa o tornozelo.

Testes de velocidade (2 km a 3:55): defendem-se, mas não é o seu forte se vais explorar a passada em séries de 400 m ou procurar o teu melhor 5K. Aparece aquela sensação de "tenho mais sola do que preciso."

Portanto, o seu 'sweet spot' é: rodagens de 10 a 20 km em ritmos de 4:20-5:30, com a versatilidade de apertar um pouco se quiseres. É, em suma, "um daily trainer com placa" mais do que "um racer disfarçada de sapatilhas para rolar."

Tipo de corredor que tirará partido

Peso e técnica: Se pesas até 80-85 kg, vai encaixar-te muito bem. Acima disso, podes usá-la, mas cuidado que a espuma é macia e talvez precises de mais suporte. Abaixo de 60 kg, notarás que é superconfortável e com um plus de reatividade.

Ritmos: Perfeitas para 4:30-5:30, embora respondam bem até 4:00 em algum trecho. Mais rápido do que isso, melhor optar por outras sapatilhas mais leves.

Distâncias: Meia maratona e até maratona, se o teu objetivo é terminar com boas sensações ou buscar um sub 3:30/sub4. Para um sub 3, são melhores as SC Elite v4 ou outras sapatilhas de competição.

Objetivo: Pessoas que querem um calçado estável, com amortecimento macio e um pouco de "fogo" para os treinos de qualidade. Ou que busquem uma maratona sem necessidade de comprar umas sapatilhas de 250 euros e espremer cada segundo.

O que mais gostei

Estabilidade surpreendente: Fiquei impressionado pela forma como conseguiram estabilizar a plataforma e suavizar a agressividade da placa. Não há aquela instabilidade lateral típica de sapatilhas com muita altura.

Amortecimento "acolchoado" mas reativo: O FuelCell de nova composição (com 20% de PEBA) consegue um bom equilíbrio entre suavidade ao aterrar e um certo retorno ao impulsionar.

Upper refinado e confortável: Ajuste firme, sem pressões estranhas. E a lingueta semi-gusseted (semi-reforçada) evita deslizamentos.

Polivalência em rodagens médias: Podes ir a 5:20 tranquilo e, se quiseres um quilómetro a 4:15, as sapatilhas respondem sem que o pé sofra.

Aspetos a melhorar

Peso: Com 263 g, não são uma peso-pluma. Há opções mais leves na mesma categoria (veja-se as Asics Magic Speed 4). Se a NB cortasse 20 g, seria um "must have" ainda maior.

Durabilidade do upper na biqueira: Após testes de abrasão, vimos que é delicado. Cuidado com as calçadas ou caminhos pedregosos.

O buraco Energy Arc "caça pedrinhas": Por vezes temos parar para tirar as que ficam presas; não é grave, mas incomoda.

Não são 100% PEBA: O mix FuelCell não chega ao retorno extremo das super-sapatilhas de competição. Quem procura aquela sensação de "trampolim" deve olhar para outras NB (SC Elite) ou a concorrência.

9. Comparações com outras rivais

Asics Magic Speed 4

Mais leves e com uma placa talvez um pouco mais agressiva. Ideais para ritmos um pouco mais rápidos (sub 4:10/km). As New Balance SC Trainer v3 ganham em amortecimento e conforto para tiradas longas.

Saucony Endorphin Speed 5

Placa de nylon em vez de carbono, toque com muito retorno e menos peso.

Menos apta para rodagens suaves (é mais racer).

As New Balance SC Trainer v3 são mais estáveis e confortáveis no dia a dia.

Puma Deviate Nitro 3

Também mistura amortecimento e placa, com um toque de Nitro suave.

Um pouco mais firmes e forma mais estreita.

As New Balance SC Trainer v3 contam com um upper melhor ajustado e "amigável".

Adidas Adizero Prime X 2 Strung

Umas sapatilhas com um toque mais firme, com maior altura na entressola e possivelmente mais "inconfortável" mas mais rápida que as New Balance.

HOKA Skyward X

Provavelmente o modelo mais parecido com as New Balance. Placa de fibra de carbono e drop menor (5 mm), mais orientada para um rocker muito marcado.

Quem adora o estilo da Hoka talvez as prefira, mas a sensação não é tão macia no impacto como as NB.

As New Balance SC Trainer v3 sentem-se mais "FuelCell" (retorno e suavidade).

As minhas conclusões

São as SC Trainer v3 as sapatilhas definitivas para todos os treinos? Não exatamente. Se procuras a leveza absoluta e a agressividade de uma racer, ficarás com vontade. Se o teu estilo é uma sensação firme e minimalista, também não é o teu par. Mas se és daqueles corredores que desfrutam em ritmos médios (digamos 4:20-5:30) e que querem uma placa de fibra de carbono "amigável" que ofereça um impulso subtil sem forçar a pisada, aqui tens uma grande candidata.

Gostei muito para rodagens entre 10 e 20 km e até as vejo aptas para maratonas - se não for para procurar baixar de 3 horas e não te importares em levar 20-30 g a mais. O FuelCell reformulado é suave, a placa Energy Arc é menos rígida do que o normal e a base mais estável resolve o que nas v1 e v2 era um problema.

Na minha rotação, as SC Trainer v3 acomodam-se como as sapatilha de "rodagens alegre" e "treinos de média distância com certo ritmo." É verdade que adoraria que pesassem 20 g a menos e que seu upper fosse mais robusto na biqueira, mas globalmente sente-se como um passo importante à frente. Quase as definiria como "umas racers a que se retirou um grau de agressividade e se adicionou um toque de conforto."

A loucura das sapatilhas com placa para tudo e a todas as horas talvez esteja a chegar a um ponto de maturidade: nem todos precisamos da rigidez extrema das sapatilhas de competição top. E nesse nicho, as FuelCell Supercomp Trainer v3 brilham. Não são as mais rápidas nem as mais leves, mas conseguem um equilíbrio que muitos corredores populares agradecerão. Se isto soa àquilo que procuras, não hesites em experimentá-las. Estou convencido de que a New Balance encontrou a fórmula para agradar a quem quer um treino com um "extra" sem sentir que está a usar umas sapatilhas de competição puras e duras.

(E sim, com as v3 encontrei as sapatilhas que me permitem sair a rodar 15 km a ritmos tranquilos, sabendo que, se ficar com vontade para meter um par de quilómetros a fundo, a placa irá apoiarme. Pode ser que não me leve ao pódio, mas torna o caminho muito mais divertido e sem renunciar ao conforto.)