Salomon Ultra Glide 3

Quando pensas numas sapatilhas de trail para longas distâncias, é fácil associá-lo a modelos pesados e ultra protegidos. As Salomon Ultra Glide sempre foram um modelo focado em ultra distância. Mas esta versão traz surpresas...

Tenho-as usado durante várias semanas na minha preparação para Val d'Aran, acumulando entre 90 e 100 km semanais com 4000-5000 metros de desnível positivo.

Coloquei-as à prova em todo o tipo de condições: saídas de casa por asfalto para ligar aos trilhos de Collserola, percursos técnicos em Montserrat com pedra solta, troços de pista, floresta, subida, descida... sol e chuva. E após mais de 400 quilómetros, continuo com a sensação de que ainda dão para muito mais.

Vamos por partes, porque há vários detalhes que vale a pena destacar.

Primeiras impressões e design

À primeira vista, as Ultra Glide 3 têm um design limpo, moderno e, na minha opinião, bastante apelativo. A cor resiste bem ao passar dos quilómetros sem perder a estética, algo que costumo valorizar numas sapatilhas que uso tanto.

Ao tirá-las da caixa, surpreendeu-me o acolchoamento do calcanhar e o toque suave do mesh. Sentem-se pensadas para longas distâncias, sem exagerar no volume.

Foi a minha primeira vez a usar o sistema Quicklace, e convenceu-me desde o primeiro dia: fácil de ajustar, não se mexe durante a atividade e permite uma entrada e saída rápida.

Em resumo, uma primeira impressão muito positiva: parecem confortáveis, estão bem acabadas e o design acompanha.

Parte superior e ajuste

Uma das coisas que mais valorizo numas sapatilhas de longa distância é que te esqueças delas assim que começas a correr. E com as Ultra Glide 3 é isso que acontece.

A parte superior envolve bem o pé, com um ajuste que se sente uniforme e seguro. No meu caso, não tive pontos de pressão nem movimentos estranhos, nem sequer em descidas técnicas ou com o pé molhado.

Quanto à respirabilidade, talvez seja um dos aspetos com margem para melhorar. Em dias mais quentes notei que o pé retinha um pouco mais de calor. Mas entendo que faz parte do compromisso com uma maior proteção da parte superior, que também se agradece em terrenos com pedras ou vegetação densa.

Após 400 quilómetros, o mesh continua em bom estado. Não há rasgões nem zonas debilitadas, o que me dá confiança para continuar a acumular saídas sem medo de que se deteriore antes do tempo.

Onde mais notei a diferença em relação a outros modelos que usei para ultras foi na entressola. O amortecimento é generoso, mas não mole.

A primeira coisa que me surpreendeu foi o quão estáveis se sentem. Muitas vezes, um bom amortecimento vem acompanhado de alguma instabilidade, mas aqui não é o caso. Podes correr por trilhos técnicos com toda a tranquilidade.

Além disso, algo que me parece digno de destaque - embora não seja o mais visível - são essas pequenas cavidades na sola que ajudam a descomprimir zonas-chave do pé. Após semanas de volume elevado não senti aquela tensão na planta que costumo ter.

Não diria que é milagroso, mas acredito que contribui para uma melhor distribuição da fadiga. No meu caso, foi uma agradável surpresa.

E depois de mais de 400 km, a entressola mantém o seu comportamento: nem sensação de compactação nem perda de conforto. Uma garantia se estás a pensar em sapatilhas para acumular muitos quilómetros.

Sola e tração

Outro aspeto onde as Ultra Glide 3 cumprem com distinção é na sola. Surpreendeu-me a durabilidade dos 'bicos': após cerca de 400 quilómetros, continuam a oferecer uma aderência muito semelhante ao primeiro dia.

Pude testá-las em terreno variado e o comportamento foi sempre fiável, transmitindo segurança.

Em zonas compactas e rápidas nota-se uma boa transição, enquanto que em terreno solto a sola agarra com eficácia.

Para mim, um extra é que permitem sair de casa a correr por asfalto sem que a sola se desgaste prematuramente, algo que nem todas as sapatilhas de trail conseguem equilibrar.

Em suma, uma sola polivalente, resistente e com uma aderência muito eficaz para quem mistura muitos tipos de terreno nos seus treinos.

Sensações em corrida

Em corrida, as Ultra Glide 3 transmitem exatamente o que prometem em estático: conforto e estabilidade. Não tive queixas nem em dias de volume elevado nem em sessões mais rápidas por terreno misto.

A subir, a aderência é fiável mesmo em troços soltos ou técnicos. Em pedra molhada, o All Terrain Contagrip faz um bom trabalho. A descer, não há milagres e é preciso avançar com cuidado, mas os 'bicos' de 4 mm são convincentes. A descer, a estabilidade da entressola e a fixação da parte superior fazem a diferença, permitindo-me soltar-me mais do que o habitual sem sentir insegurança.

Em plano, surpreende o quão fácil é manter um ritmo fluido, algo que nem sempre acontece com sapatilhas tão protegidas. Isso deve ter a ver com o seu peso reduzido de 285 gramas, que é bastante leve se compararmos com modelos similares de outras marcas.

À medida que acumulava quilómetros em cada saída, sentia que a sensação de fadiga nos pés era menor do que com outros modelos que usei para ultras. Provavelmente o equilíbrio entre amortecimento, estabilidade e ajuste tem muito a ver.

Depois de várias semanas a treinar com elas em semanas de 90-100 km, confirmo que são umas sapatilhas que ajudam a manter a frescura no pé quando as horas e os metros de desnível se acumulam.

Conclusão e veredicto final

Após mais de 400 quilómetros de uso, posso dizer que as Salomon Ultra Glide 3 são uma aposta muito sólida para quem procura conforto e fiabilidade na longa distância.

São umas sapatilhas bastante leves para correr ultras. Não são as mais agressivas para terrenos extremos, mas se o teu objetivo é somar quilómetros com proteção, bom amortecimento e durabilidade, acho difícil errar com este modelo.