Rossignol Vezor

Experimentar umas sapatilhas de trail não se resume apenas a fazer algumas corridas. Para este primeiro modelo de trail da Rossignol, quis levar a experiência ao limite. Nas próximas linhas, partilho contigo o comportamento destas Rossignol Vezor após um uso intensivo.

Tive a sorte de descobrir o modelo em primeira mão durante o UTMB Chamonix 2024, por ocasião do seu lançamento oficial. Ali, pude conversar profundamente com as equipas de design e os responsáveis de marketing da Rossignol para entender a filosofia por trás do modelo.

Mas foi sobretudo no terreno que tudo se decidiu. Primeiro realizei uma série de testes este inverno em terrenos variados: trilhos técnicos, lama, rochas, neve.

Depois, para realmente colocar à prova as Vezor da Rossignol, peguei num par novo que só tinha usado para caminhar durante uma semana... antes de me lançar na Blue Trail Tenerife by UTMB, uma ultra exigente de 73 km, que corri em 12h20. Terreno vulcânico, rocha afiada, floresta húmida, tramos rolantes, asfalto no final: um verdadeiro teste de resistência. Ainda mais considerando que sou um corredor bastante pesado, não exatamente o modelo de agilidade natural em descida... Digamos que não é fácil transformar um ex-jogador de râguebi num bicho de montanha.

E talvez isso é o que torna este teste ainda mais relevante: se estas sapatilhas de trail running resistiram à minha morfologia e ao meu estilo de correr, provavelmente funcionarão muito bem também para ti.

Características técnicas: um concentrado de reflexão e tecnologia

As Rossignol Vezor são um modelo pensado para terrenos técnicos e resistência. Estas são as suas principais características:

• Peso: 282 gramas (Homem) / 231 gramas (Mulher).
• Drop: 6 mm.
• Altura da entressola: 29 mm no calcanhar / 23 mm na frente.
• Sola exterior: Michelin Formula com pitões de 4 mm., excelente aderência mesmo em terreno húmido ou lamacento.
• Sola intermédia: Dupla densidade (EVA + N+FOAM injetada com nitrogénio), com o inserto Diapazon+ (fibra de vidro e nylon) para estabilidade, retorno de energia e propriocepção.
• Tecnologia Sensor: atua sobre os três nervos chave do pé para um melhor equilíbrio.
• Parte superior: mesh de três camadas respirável, com reforço frontal, e sistema de atacadores multi-zonas “Dragonfly Cage” para um ajuste ultra preciso.
• Calcanhar: estrutura assimétrica elevada para melhor estabilidade do tornozelo.
• Palmilha interna: fina, removível, permite ajustar o calce conforme o volume do pé.

Durante a apresentação em Chamonix, as equipas mostravam uma serenidade impressionante. Três anos de desenvolvimento, um design amadurecido em Itália, decisões técnicas plenamente assumidas: as Vezor são uma verdadeira síntese do saber fazer alpino aplicado ao trail running

Um teste em grande escala, em todo o tipo de terrenos

Após um inverno percorrendo os meus trilhos preferidos entre neve, pedras, lama e raízes, já tinha sentido o potencial do modelo. Mas a Blue Trail Tenerife by UTMB permitiu-me testar as Vezor em condições extremas, numa ultra de mais de 12 horas.

Desde os primeiros quilómetros, o dinamismo destas sapatilhas nota-se de imediato. A combinação EVA + N+FOAM, associada ao rocker bem marcado, gera uma passada fluida, sem ter sensação de ser mole. É agradável e eficaz, especialmente em tramos rolantes ou relançamentos em falso plano.

Um momento chave? A grande descida entre o km 43 e o km 53: 1600 metros de desnível negativo em 10 km. Começa-se em pedra vulcânica abrasiva, para depois entrar numa floresta tropical húmida, por trilhos estreitos e enganosos. E aí, sendo que realmente não sou bom a descer, surpreenderam-me. Nem uma queda, muito poucos escorregões. O mais importante: sem abrasões, sem sobreaquecimento, com o pé perfeitamente seguro.

O ajuste das Vezor marca claramente a diferença. O pé está bem colocado, seguro, mesmo quando o cansaço aparece. Em descidas, isso permite pisar sem medo, mesmo com os meus 85 quilos de peso. Tive a clara sensação de que as sapatilhas e eu éramos um só.

A tração Michelin cumpriu amplamente: eficaz em rocha, estável em lama, tranquilizador em terra húmida. E apesar dos quilómetros e da dureza do terreno vulcânico, não mostraram nenhum sinal visível de debilidade.

Pontos fortes das Rossignol Vezor: vantagens indiscutíveis

Um ajuste ultra preciso e um ajuste impecável

O design inspirado no alpinismo, juntamente com o sistema de atacadores Dragonfly Cage, permite um ajuste ao milímetro. Mesmo em terrenos inclinados, o pé mantém-se firme, o que evita abrasões e aumenta a precisão ao apoiar. Para mim, que tenho um pé largo, o sistema modular com palmilha interna removível permitiu-me adaptar perfeitamente o modelo à minha morfologia.

Um dinamismo equilibrado e duradouro

A dupla EVA + espuma injetada com nitrogénio oferece um amortecimento reativo, sem excessiva moleza. Resultado: pode correr-se durante muito tempo, com boa sensação de retorno, sem que as sapatilhas se afundem. Em 70 km, notei uma constância na dinâmica, o que é raro neste tipo de distâncias.

Uma tração excepcional e verdadeira estabilidade

Mesmo em pedra vulcânica ou zonas húmidas, a sola Michelin respondeu. O design dos pitões e a estrutura da sola garantem uma excelente transição calcanhar-ponta. Combinado com o inserto Diapazon+, oferece uma estabilidade lateral muito segura, especialmente em descenso.

Uma construção robusta

Apesar de um ultra sobre terreno abrasivo, não se notou nenhum desgaste significativo. O mesh de três camadas, os reforços, a sola: tudo se mantém intacto. Nota-se que está feita para durar.

Pontos a melhorar das Rossignol Vezor

A língua, fina e pouco acolchoada, requer um ajuste preciso

Nas primeiras saídas, precisei de várias tentativas para colocar bem a língua. Pode causar ligeiros pontos de pressão se não for bem ajustada. Uma versão um pouco mais acolchoada seria bem-vinda, sem comprometer o peso.

Um leve atrito no calcanhar

Durante as primeiras horas de corrida, senti um pequeno ponto de atrito na parte alta do calcanhar. Nada grave, mas poderia ser incómodo em ultras muito longos, especialmente sem meias adequadas.

Um design que divide opiniões

Muito sóbrio, muito técnico. Alguns apreciarão, outros talvez prefiram um design mais audaz. Pessoalmente, vejo-o coerente com o ADN montanhês da Rossignol.

Com que modelos podemos comparar as Rossignol Vezor?

Para quem estão pensadas as Rossignol Vezor?

As Rossignol Vezor estão claramente destinadas a corredores/as de trail que procuram precisão, estabilidade e fiabilidade em todo o tipo de terrenos. Destacam-se especialmente onde é necessário pisar com exatidão: cristas, descidas técnicas, rochas instáveis, solos moles. Serão adequadas tanto para trail runners leves como para perfis mais robustos como o meu.

São umas sapatilhas para corridas de entre 20 e 80 km. No meu Blue Trail de 73 km foram perfeitas e estou convencido de que poderia ter feito mais 30 km sem problema. Ainda não posso falar de uns 100 km ou 100 milhas, mas para longas distâncias, sempre que o terreno seja variado, desempenharão muito bem

Por último, graças ao seu sistema de atacadores adaptável e à palmilha interna modular, adaptam-se a todo o tipo de morfologias do pé. Um verdadeiro acerto em termos de versatilidade.