Mizuno Neo Zen

Quando falamos da Mizuno, muitos pensam na clássica placa Wave ou em sapatilhas com geometrias bem definidas. Mas as Mizuno Neo Zen são uma pequena revolução: afastam-se das típicas "ondas" e apostam numa entressola sem placa de fibra de carbono, investindo tudo na espuma Enerzy Nxt injetada com nitrogénio. O resultado é uma passada suave, com um toque firme no ponto certo e um conforto inesperado. Confesso que ao ouvir o nome "Neo Zen" pensei que era puro marketing japonês, mas surpreenderam-me positivamente em treinos diários.

Surpresa ao abrir a caixa

Assim que abri a caixa das Mizuno Neo Zen senti uma combinação de surpresa e curiosidade. O primeiro que me atraiu foi a entressola esponjosa, que promete conforto mesmo antes de calçá-las. Vem acompanhada de um cabedal em malha com um acabamento tipo bota no calcanhar, algo pouco convencional nos designs clássicos da Mizuno. Nas mãos, parecem mais leves do que eu esperava e a flexibilidade que notei ao dobrá-las transmitiu-me a ideia de que não seriam umas sapatilhas "rígidas". Visualmente, gostei das cores, sem cair em exageros.

Ao calçá-las, a primeira sensação é de conforto imediato. Esse colar estilo "bota" abraça o tornozelo e o peito do pé com muita suavidade, sem pontos de pressão que me incomodem. Assim, a experiência de "calçá-las" já me conquistou antes de correr.

Primeiros quilómetros: Não há placa? Pois... não faz falta

Saio para correr com a ideia de que, por serem Mizuno, teria aquele toque algo rígido. Mas não. A espuma Enerzy Nxt, com nitrogénio injetado, é a que aporta reatividade. Faltou-me a placa? De forma alguma. Em treinos de 5 a 10 km, a ritmos que oscilam entre 4:30 e 5:30 min/km, sentem-se "esponjosas" na pisada, mas com um apoio firme que não nos afunda. Se já experimentaste outras sapatilhas hiperamortecidas, notarás que estas Neo Zen estão a meio caminho: são suaves, mas não afundam o pé como um pântano.

A propósito, a sensação de leveza também me chamou a atenção: segundo a minha balança, rondam as 270-280 gramas (na minha numeração), o que, para um calçado de treino diário, é apreciável se somares 50-60 km semanais.

Como se comportam em corrida

Acumulei cerca de 170 km com as Neo Zen e experimentei vários cenários de treino:

Rodagem suave (acima de 5 min/km)

Estas sapatilhas fluem muito bem e os impactos sentem-se atenuados. Em corridas de 45-60 minutos, o conforto mantém-se estável. O cabedal não incomoda e os teus pés não se sobreaquecem.

A entressola mostra-se muito homogénea em cada passada: nem notas afundamento excessivo nem te "trava" ao contacto.

Rodagem a ritmo médio (4:30-5:00 min/km)

Aqui é onde eu mais desfrutei delas: têm a reatividade suficiente para não te sentires "esmagado" e a suavidade necessária para que as articulações não sofram.

Surpreendeu-me que, mesmo sem placa de carbono, comportam-se bem em acelerações. Com algumas mudanças de ritmo para ver a sua resposta, não senti falta de um impulso extra.
Séries ou ritmos abaixo de 4:00

Cheguei a fazer intervalos a 3:50 / 3:55. Continuam a responder decentemente, embora já se note que não são umas "voadoras" puras. Isso sim, não se sentem desajeitadas, como às vezes acontece com algumas sapatilhas excessivamente amortecidas.

Cuidado com o chão molhado: em dias de asfalto húmido, senti uma aderência algo menos fiável. Não é algo grave, mas convém ter cuidado em passagens de peões escorregadias ou curvas fechadas.

Conforto e ajuste: como está o upper?

O upper tipo meia agradou-me muito porque, de início, ajusta-se confortavelmente e sentes o pé acolhido. No entanto, se tens o pé muito estreito, notarás que em curvas bruscas o tornozelo fica um pouco solto. Não é que seja instável, mas falta-lhe um plus de reforço na zona do colar que outras sapatilhas de treino mais clássicas incluem.

O knit é muito respirável: molhei os pés com uma poça e em 20 min já quase estava tudo seco. É perfeito para aqueles dias quentes ou treinos em ambientes húmidos.

O que mais gostei

O que mais valorizo é o conforto: correndo uma hora seguida, notas que os pés mantêm-se relaxados, e não experimentei atritos nem tensões que me incomodassem. Mesmo sem a placa Wave ou uma de carbono, a Mizuno conseguiu umas sapatilhas com um toque de reatividade interessante. Para os meus treinos diários, tornou-se a minha aliada quando quero sentir leveza no asfalto. Soma pontos o seu upper respirável, que liberta bastante o pé.

Possíveis pontos de melhoria

Em pista ou em curvas bruscas, notei um pouco de "flaneio" do pé, principalmente porque o upper não tem grandes reforços laterais nem um contraforte potente no calcanhar. Se fores um corredor de constituição mais pesada (+85 kg) ou muito agressivo em mudanças de direção, podem faltar-te uma sensação de controlo extra. Pessoalmente, gostaria que na próxima versão incorporassem algo mais de estrutura na zona média ou no tornozelo.

Para quem as vejo ideais?

• Corredores de até 85 kg: Acima desse peso, talvez precises de algo com mais suporte lateral ou menos "movimento" na zona da entressola.
• Rodagens diárias: Para fazer as tuas 2-4 corridas semanais em torno de 10-12 km, ritmos tranquilos ou moderados, priorizando o conforto.
• Treino híbrido: Se também usas outras sapatilhas para dias de séries rápidas, as Neo Zen podem ser as tuas aliadas nas corridas de recuperação ou de volume médio.

Conclusões após mais de 170 km

As Mizuno Neo Zen foram uma grata surpresa na minha rotação. Parecem-me uma lufada de ar fresco dentro do catálogo da marca: umas sapatilhas simples, leves, com amortecimento bastante uniforme e confortável para os treinos diários. Não são as mais estáveis do mercado, nem buscam ser a "voadoras" definitivas para ritmos agressivos, mas se desejas um calçado que te acompanhe em rodagens tranquilas ou de qualidade média, esta pode ser a tua opção.

Isso sim, eu reforçaria a fixação do tornozelo para que fossem perfeitas. Em resumo, fico com a sua filosofia de colocar o foco na leveza e no toque agradável da entressola, sem a necessidade de recorrer a placas ou artifícios. Uma aposta diferente da Mizuno, para corredores que simplesmente procuram correr confortavelmente no asfalto.